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Natal: Comida, abundância & culpa



É Natal. Tempo de luz, de família, de partilha. De abundância de amor, de gratidão e perdão. Mesmo assim, para muitos, as pequenas luzes brilhantes da árvore facilmente se transformam num grande holofote, numa sirene, num botão de pânico para quem vê, na(s) ceia(s) de Natal uma grande ameaça à sua imagem corporal. De repente, boas emoções, memórias queridas e palavras calorosas são ofuscadas pelo medo, pela vergonha, pela culpa.


Hoje falamos em medo de abundância alimentar. Medo de perder o controlo. Medo das consequências de comer em demasia. Visões rígidas e inflexíveis sobre a alimentação em todas as suas funções e papéis. Até que ponto as nossas atitudes acerca da alimentação e do corpo, durante a época Natalícia, não são verdadeiramente patológicas, na sua sobrevalorização da forma e peso do corpo e do seu controlo? O que comemos tem, sim, impacto no nosso corpo, mas este impacto não é permanente, eterno e irremediável, e nunca deverá sobrepor-se a outros aspetos da vida e ser ditador do nosso valor pessoal.

A comida não é apenas uma fonte de energia, nutrientes e calorias. Oferecer comida é um ato de amor, e todo um esplendor sensorial: em qualquer mesa de convívio há comida, que nos traz memórias e nos ajuda a criar novas memórias, escolhemos comidas especiais para pessoas e momentos especiais. Atualmente, acredita-se que a alimentação intuitiva é a forma mais saudável de nos alimentarmos, tanto do ponto vista físico como psicológico. Esta baseia-se numa ideia simples: estar em paz com qualquer tipo de alimento, preconizando a atenção ao corpo e às suas necessidades.

Como ter, então, uma alimentação intuitiva neste Natal?

  1. Não entre em restrição preventiva dos dias em que comerá “mais do que devia” ou “maus alimentos”. Em vez disso, tente manter uma alimentação regular e equilibrada nos tempos que antecedem as festividades (ou sempre, se possível!). Ainda, e por mais estranho que lhe pareça, o comportamento de restrição alimentar é um dos mais poderosos preditores da ingestão alimentar compulsiva. De qualquer modo, se estiver aconselhado medicamente a evitar determinados alimentos, deverá continuar a fazê-lo - só assim atenderá às verdadeiras necessidades do seu corpo;

  2. Mesmo perante uma farta mesa de Natal, o seu corpo permanecerá capaz de o informar se tem fome ou não. Coma quando tiver fome, antes e perante a mesa farta de Natal. Se chegar com fome aos dias festivos, certamente o seu corpo entrará em modo de sobrevivência, “atacando” tudo aquilo que vir. Permaneça atento às pistas de saciedade enquanto come, de forma a saber quando deverá parar;

  3. Não tem mal nenhum pensar na comida de forma funcional. Concebe ter prazer em fazer uma receita natalícia de um modo mais saudável? Então, força! Não consegue conceber uma receita numa versão mais equilibrada, e pensa que se o fizer não se sentirá satisfeito? Então, adapte outras receitas que não essa, que é claramente importante para si por outros motivos que não a nutrição;

  4. Respeite-se. A comida tem mesmo um valor emocional. Há comidas que apelam à nossa sensação de conforto, afeto, segurança. Contudo, a comida não deve ser vista como um regulador de emoções. Se der por si constantemente a recorrer a alimentos para se regular emocionalmente, tente optar por outras estratégias. Se passar a noite de Natal a comer, compulsivamente, não conseguirá usufruir das conversas, do ambiente, dos outros. Esteja mindful nestes bons momentos, tente vivê-los de uma forma plena, olhando para a comida com atenção, mastigando lentamente, saboreando verdadeiramente.

Por fim, se conseguir cumprir todos estes pontos, por favor, não planeie uma dieta como resolução de novo ano.

Boas festas!

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