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A doença de Parkinson


O dia 11 de abril é o Dia Mundial do Doente de Parkinson, em homenagem a todos os que experienciam esta patologia e também a James Parkinson, médico inglês que identificou a doença pela primeira vez no século XVIII.


A doença de Parkinson é uma doença degenerativa caracterizada por disfunção neurológica e é causada pela redução de produção de células que produzem dopamina (substância química que comanda a atividade muscular a nível cerebral). A sua prevalência aumenta com a idade, sendo rara antes dos 50 anos, e é mais comum no género masculino do que feminino.


Estima-se que cerca de 20 mil portugueses apresentem esta doença. Com o aumento da longevidade da população, é esperado que esta doença, nos próximos 20 anos, afete cerca de 30 mil pessoas.

Os sintomas motores da doença são os mais conhecidos, sendo os mais prevalentes tremor quando os músculos estão em repouso, aumento no tónus muscular (rigidez), lentidão nos movimentos voluntários e dificuldade em manter o equilíbrio (instabilidade postural). Em muitas pessoas, a função cognitiva fica comprometida, podendo haver o desenvolvimento de demência.


Além disso, esta doença apresenta um conjunto de sintomas não-motores – físicos, cognitivos e psicológicos - que contribuem para a incapacidade consequente desta doença, e para o impacto negativo desta condição na qualidade de vida dos doentes. A literatura científica recente (e.g., Montanaro, et al., 2022; Laux et al., 2022) mostra que, os doentes podem experienciar dificuldades visuais, dificuldades na mastigação e deglutição, incontinência urinária, cãibras, fadiga ou obstipação. Além disso, tendem a experienciar alterações do sono, perdas de memória, e níveis elevados de sintomatologia depressiva e ansiosa.


Para que os sintomas se manifestem, é necessária a morte de 70% a 80% das células cerebrais, não sendo ainda conhecida a causa responsável pela morte celular e o porquê de algumas pessoas desenvolvem esta doença e outras não. Alguns fatores que podem estar na sua origem estão relacionados com a história familiar, a exposição a pesticidas ou toxinas industriais e o próprio envelhecimento.


O diagnóstico da doença é feito com base na história clínica do doente e na sua avaliação neurológica, não existindo nenhum teste laboratorial que permita um diagnóstico definitivo. Perante um quadro sugestivo da doença, habitualmente, segue-se um ensaio de tratamento com levodopa, para confirmação de diagnostico. Se os sintomas melhorarem durante este ensaio, a probabilidade de se estar perante doença de Parkinson é muito elevada.


Embora não exista cura para a doença de Parkinson, os sintomas podem ser controlados através de terapêutica farmacológica, sendo a levodopa (fármaco antiparkinsónico muito eficaz na redução dos sintomas motores nas fases iniciais da doença) o medicamento mais utilizado. A terapêutica farmacológica pode ainda caracterizar-se pelo uso de outros medicamentos, isoladamente ou em associação com a levodopa, tais como agonistas da dopamina e outros fármacos que atrasam a degradação da dopamina no corpo humano. Há ainda alguns estudos que indicam um interesse crescente na utilização de alguns antioxidantes e suplementos com vitamina E e C.

De realçar que a escolha do tratamento deve sempre ser feita por um médico com conhecimento científico e técnico para tal.


Tem sido demonstrada a eficácia da adoção de uma dieta equilibrada, da prática regular de exercício físico e fisioterapia na melhoria da mobilidade e flexibilidade dos doentes, assim como na melhoria da sua qualidade vida geral. A estimulação cognitiva é também utilizada na estimulação e manutenção de capacidades cognitivas, durante o máximo de tempo possível. Este tipo de intervenção foca-se também em identificar, compreender e aliviar a sintomatologia depressiva e ansiosa experienciada pelos doentes, bem como em ajudar a família a lidar com alterações comportamentais (e.g., compulsividade e apatia). Recentemente, foi demonstrado que a prática de autocompaixão foi associada a níveis mais baixos de sofrimento psicológico (i.e., sintomatologia depressiva, ansiosa e stress) em doentes com Parkinson, revelando-se necessário o desenvolvimento e a avaliação de intervenções focadas na compaixão, adaptadas a esta condição (Eccles et al., 2023).

A doença de Parkinson requer uma abordagem multidisciplinar, em que o acompanhamento psicológico assume um papel fundamental.


O diagnóstico de doença de Parkinson é um momento exigente e desafiante do ponto de vista emocional, no qual surgem dúvidas e preocupações relacionados com os sintomas, tratamento e evolução da doença, que para o doente como para os seus cuidadores. O acompanhamento psicológico pretende ajudar os doentes e cuidadores a expressar e regular as suas emoções, procurando facilitar o processo de adaptação à doença, a nível individual, familiar e social. Além disso, pretende ajudar na diminuição da sintomatologia depressiva e ansiosa potencialmente presente, e na diminuição da dor. Além disso, pretende-se que o psicólogo facilite a adesão do doente ao tratamento, o ajude a ajustar expectativas e objetivos pessoais. É importante ser promovida uma comunicação assertiva entre o doente e os seus cuidadores. Por fim, um psicólogo com formação especializada poderá ainda utilizar exercícios de estimulação cognitiva (e.g., ao nível da atenção e memória).


Se tiver recebido um diagnóstico de Parkinson, e considera que precisa de ajuda para lidar com os desafios desta doença, procure ajuda especializada e cuide de si.


Referências

Bucur, M., & Papagno, C. (2022). Deep Brain Stimulation in Parkinson Disease: A Meta-analysis of the Long-term Neuropsychological Outcomes. Neuropsychology Review. https://doi.org/10.1007/s11065-022-09540-9

Eccles, F, Sowter, N., Spokes, T., Zarotti, N. & Simpson, J. (2023). Stigma, self-compassion, and psychological distress among people with Parkinson’s. Disability and Rehabilitation, 45(3), 425-433, https://doi.org/10.1080/09638288.2022.2037743

Laux, G. (2022). Parkinson and depression: Review and outlook. Journal of Neural Transmission, 129, 601–608. https://doi.org/10.1007/s00702-021-02456-3

Montanaro, E., Artusi, C.A., Rosano, C. et al. (2022). Anxiety, depression, and worries in advanced Parkinson disease during COVID-19 pandemic. Neurological Sciences 43, 341–348. https://doi.org/10.1007/s10072-021-05286-z

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